O BORBULHAR DA MINHA MEMÓRIA
Luiz
Ferreira da Silva, 87
Engenheiro-Agrônomo
e Escritor
Acabo
de ler o livro do Nireu Cavalcanti, com o título, borbulhar da memória,
retratando literalmente a sua família. A dedicatória expressa um momento de
lembrança eivada na amizade.
E quem
é esse alagoano que migrou para o Rio de Janeiro por contingências da política
estúpida do interior nordestino, cujo irmão mais velho, Gilberto, foi vítima?
Simplesmente,
para não me alongar, arquiteto, pintor, desenhista e historiador. Um dos
membros de uma família edificada pelo casal Júlio e Maria, lá de Capim, hoje,
Olivença.
Sinto-me
presente nas belas narrativas da epopeia narrada a 10 mãos – Nireu, Hermano,
Luitgarde, José e Luciaurea – aflorando à minha memória, uma lembrança que
permanece fincada na minha cachola.
Refiro-me
ao irmão número 3; Julmário,
meu colega do Colégio Estadual de Alagoas, cuja amizade fraterna nasceu no
primeiro dia de aula numa situação inusitada.
Em
1951, os calouros que lograram êxitos no “vestibularzinho” (exame de admissão)
se encontravam em frente ao portão de entrada do educandário, sob a marquise do
foto-fon, apavorados ante os veteranos que lá se postavam para “recepcioná-los”
com cocorotes e reguadas.
E
assim, os colegas iam sendo batizados. Julmário, que não o conhecia, se
aproximou e me propôs ficar na moita, até que todos adentrassem. Apoiei a ideia
e em desabalada carreira, com os livros na cabeça, passamos ilesos pelas
brechas, deixando os algozes com caras de trouxa.
Daí
para frente, ficamos amigos. Como morava na Rua Zacarias de Azevedo, cujo
percurso era pela Rua Dias Cabral, fazia uma parada na sua residência,
possibilitando-me enturmar com o Emmanuel, Hermano, Nireu e José. Luitgarde era
a princesa da casa. Deve ter passado a coroa à Luciaurea, que chegou tempos
depois.
Era
lúdico a gente se amoitar no fundo do quintal, escondidos nos arbustos, e expor
as nossas fantasias de adolescentes, eivadas de sonhos eróticos e muitas
mentiras.
Pulando
11 anos, reencontrei o amigão, que já morava no Rio de Janeiro, por ocasião da
minha formatura, dezembro de 1962 (UFRRJ/Seropédica). Ele compareceu e fiquei
muito feliz,
Nesse
instante, hoje, 74 anos após o estopim da nossa amizade, lendo o livro do
Nireu, aquilato o quanto é extraordinário se cultivar um AMIGO, pois
permanecerá vivo independentemente do tempo e da presença física.
Portanto,
lembrar-se de um momento marcante é se rejuvenescer constante! E, dessa forma, continuo
a frequentar a Rua Dias Cabral, número 124, como se fosse hoje. (Maceió, AL,
31.01.2025).
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