sábado, 9 de dezembro de 2023

SALGEMA

 OS TABULEIROS DE MACEIÓ: OS SOLOS, AS CAMADAS E O CAOS AMBIENTAL

 Luiz Ferreira da Silva, 86 Pesquisador aposentado/Solos Tropicais, CEPLAC/BA. luizferreira1937@gmail.com 

Os tabuleiros se originam do terciário – formação barreiras, cuja litologia é formada por arenitos conglomerados, camadas e lentes de argila, arenitos não consolidados e lentes de seixos, conforme meu colega Agusto Pedreira (im), estudioso em geologia de áreas sedimentares. Em certos trechos do litoral, esses sedimentos – esculpidos em mesa – são cortados por falésias abruptas, como acontece em Porto Seguro (BA) e na Lagoa Azeda/AL, além de outros locais do Rio Grande do Norte à Macaé/RJ. 
Trata-se, pois, de materiais retrabalhados sobre os quais sob a ação dos fatores de formação do solo (clima, relevo e a biosfera) formam os solos identificados com a maior ou menor ação de um deles ou combinada. O autor estudou perfis de solos em topos sequenciais, bem como camadas litológicas até 30 metros de profundidade, em corte de estrada, com vistas a detectar as variações do solo com a posição topográfica (carreamento) e com a posição do sedimento (estratificação cruzada), no intuito de verificar a interação geoecológica na formação dos perfis. 
Em razão da natureza físico-química do material de origem, os solos são profundos, pobres em nutrientes, carentes em minerais primários e de baixa retenção de água. Argila de baixa atividade coloidal; dominância de sesquióxidos de ferro e alumínio. 
Pois bem, isso é o que se pode ver, apalpar e sentir em trincheiras. Ou seja, os horizontes do solo, de 0 a 200 cm. O mundo do pedólogo, como eu. Mas as camadas para baixo também lhe interessa, sobretudo os depósitos de água, através de análises de camadas profundas dotadas de areias grossas, contíguas aos argilitos e/ou folhelhos. 
Essa estratigrafia é variável e, no caso de Maceió/AL possui uma camada de acumulação de sal, oriunda da evaporação da água salgada marinha, em tempos do plioceno recente. Uma riqueza para a indústria química.

 (Estratigrafia e retirada do sal pela Brasken, (Poliana Casemiro, g105/12/2023)
É muito comum a perfuração de poços, explorando camadas acumuladoras de água, geralmente situadas a uma profundidade de 80 metros. Neste caso, é preciso se controlar a vasão retirada, utilizando com parcimônia, a fim não desequilibrar o sistema hídrico. Há casos, ao se retirar excessivamente, o repositório baixar a um ponto tal que, através do lençol freático, o mar penetrar, salinizar e reduzir a qualidade da água, como aconteceu em zonas concentradas desses poços nos tabuleiros de Maceió/Al. A Natureza nos dá, mas exige respeito às suas Leis. Nunca esquecer disso! Esse introito até longo é para tentar entender a catástrofe ecológica acontecida em diversos bairros da capital alagoana, ocasionando danos irreparáveis a uma população de mais de 50 mil habitantes, mas não suficientes para sensibilizar o poder público. Durante décadas, a Braskem minerou o sal-gema, explorando a camada de sais, desrespeitando regras ecológicas, sobretudo referentes à manutenção do equilíbrio estratigráfico da formação geológica, aqui descrita. É muito simples, para o leitor entender, de modo sucinto e sem muito ‘revorteio”. 

Imaginemos o gostoso bolo de roloque os pernambucanos inventaram para deleite de nós todos. Fig. 2. Bolo de rolo/rocambole com diversas camadas. Com um garfo, um abelhudo vai cutucando uma camada que mais lhe atrai no interior do bolo. Se pouca coisa, desinforma o bolo, mas sem muitas consequências. Mas ele não se contenta e manda ver na sua gula por doces. O que acontece? O bolo se desmorona. A Braskem no seu imediatismo e afã de ganhos sem comedimentos, deu uma do nosso glutão, extraindo o sal de modo predatório, ocasionado o desequilíbrio das camadas, afetando o chão que as recobre. O buraco que apareceu neste ano de 2023 teve um benefício: - lembrar ao poder público e à sociedade, nos seus diversos segmentos, um crime que vem lá de trás, impune na magnitude da agressão ambiental. Essa celeuma, esse corre-corre de hoje com a mídia divulgando inverdades e os políticos se apiedando dos pobres, talvez seja em razão das próximas eleições de 2024. A Natureza, em sua sabedoria, a tudo assiste e se lamenta em ter agido com firmeza, como sempre faz ao ter suas Leis contrariadas. (Maceió, Al, 05/12/2.023)

terça-feira, 28 de novembro de 2023

UMA NOVA VISÃO DA CACAUICULTURA


 

ESTADUALIZAÇÃO DA CACAUICULTURA

Luiz Ferreira da Silva, 86

(luizferreira1937@gmail.com)

 

(O belo edifício do ICB, patrimônio cultural)

 

No século XIX a economia baiana já dava sinais de dificuldades internas de produção, ou externas de comercialização dos produtos constantes de nossa pauta de exportação: açúcar, fumo e algodão. O açúcar, principal produto de exportação da então Província da Bahia, entrou em crise no final desse século, porém, um novo produto despontava: o cacau. A estreita faixa da cidade na parte baixa inseriu-se no processo de modernização na primeira década do referido século com a ampliação do porto. Nesse espaço, próximo à área portuária, foi erguido o edifício sede da lavoura cacauicultora baiana. O Instituto do Cacau da Bahia. Coube ao Dr. Ignácio Tosta Filho, Secretário de Agricultura, defensor de medidas de amparo à produção e comercialização do cacau baiano, a concepção e criação do Instituto, em 1931. (Fonte: Ipac-BA).

Em 05/11/2002, o edifício sede na Avenida França s/n – Comércio – Salvador/BA foi tombado como patrimônio artístico e cultural.

Quando cheguei na Região, em 1963, ainda usufrui de ações do ICB, através de seus ónibus que prestavam um serviço inestimável a toda região do cacau. Ainda alcancei os postos de compra-e-venda do produto e a Estação de Água Preta com seus pesquisadores de renome.

Na sua época, antes da existência da CEPLAC, quando a região sul baiana era carente em tudo, o ICB foi tão importante quanto a CEPLAC da década de 60. Ou até foi mais.

Esse introito é para desenvolver uma ideia sobre a cacauicultora de hoje, federalizada, que passa por uma crise sem precedentes e, na minha cabeça, ela é “one way” (sem retorno).

Eu me pergunto para tentar entender o problema:

*. O que representa o cacau para a economia do país?

*. Que importância estipendiária para o agronegócio brasileiro?

*. Que tamanho ele se apresenta aos olhos da EMBRAPA, cujo foco maior é o Centro-Oeste, por diversas razões?

Bem, isso é suficiente para o meu repensar. O cacau nada representa para o país, mas pode ser a tábua de salvação para os Estados.

Antes de me refutarem que nada funciona a nível dessa gerência publica, fui buscar três simples exemplos de Instituições Estaduais de excelência, atestando o contrário. O Instituto Agronômico de Campinas/SP, a EPAMIG/MG e o IAPAR/PR. O governo federal entra de parceiro, mas a hegemonia é deles. A EMBRAPA não canta de galo e precisa mais deles do que eles dela.

Então, que tal, Governador Helder Barbalho, criar o Instituto do Cacau do Pará? E o Governador Marcos Rocha de Rondônia ir ao mesmo caminho, fundando o Instituto de Cacau de Rondônia?

Em ambos os casos, é fundamental buscar um líder inspirado no Tosta Filho, criador do Instituto de Cacau da Bahia e na força de trabalho contaminante de Frederico Afonso.

Não há uma perseguição à CEPLAC, querendo fechar as suas portas? A hora deve ter chegado de modo indolor. Os novos organismos absorveriam, em comodato, o patrimônio físico e formariam seus novos times.

E a Bahia? É um caso mais complicado por suas linhas cruzadas e falta de liderança. Mas, creio ser possível, revivendo o simbolismo da fénix: renascer das próprias cinzas. (Maceió, AL, 28.11.2023).

 




terça-feira, 26 de setembro de 2023

RE-ENERGIZAÇÂO

 CARRO ELÉTRICO versus VELHO ELÉTRICO.

Pois bem. O fim da poluição fóssil está no carro elétrico. Imagine São Paulo sem carros, ônibus e motos sem queimar petróleo, sem barulho e sem fumaça no ar!
Sou um entusiasta e pretendo adquirir um BYD -DAUPHIN.
Mas um outro entusiasmo pelo lado da “etariedade“ me envolve ao passar por um ponto de ré-energização dos carros elétricos. 
]Seria bom que houvesse tomadas para ré-energização dos velhinhos. Ora, a engenharia poderia se juntar com a medicina e produzir esse instrumental de reativação da força orgânica e cerebral dos idosos.
A velhinha, depois de uma caminhada ou de um trabalho qualquer, colocaria o dedo mindinho na tomada, adrede modelada, por uns 10 minutos e sairia radiante. No caso do velhinho, talvez o dedo mindinho fosse pouco; precisasse testar outras alternativas. Eu sei de uma, mas não vou dizer…. tenho vergonha.
QUE TAL A IDEIA?!

segunda-feira, 31 de julho de 2023

VAASOURA-DE-BRUXA

 X. POST SCRIPTUM

A CHEGADA DA VASSOURA DE BRUXA

Terrorismo biológico?

(Do livreto – PROPOSTA PARA REATIVAR A CACAUICULTURA NACIONAL, versão 2; 2022.  Luiz Ferreira da Silva e José Carlos Castro de Macedo).


Para um alerta a toda agricultura do nosso país, é pertinente comentar sobre a infestação do cacau pela vassoura-de-bruxa, quando a Bahia era indene.

Malgrado os esforços da CEPLAC, através da CAVAB (Campanha de Controle da Vassoura-de-bruxa), implantada em 1978, com a finalidade de evitar a contaminação dos cacauais baianos, a doença chegou devastadoramente, em pontos dispersos, coincidentemente em maciços cacaueiros pujantes.

Analisando diversos fatores que poderiam contribuir para a chegada do temido esporo, a conclusão aponta pelo “vetor humano”, ou por ignorância, negligência ou por ação deliberada. Em outras palavras, ato criminoso, talvez.

Relembremos a reportagem da Revista VEJA (21.06.2006) – TERRORISMO BIOLÓGICO – em cujo teor havia várias acusações contra pessoas, atribuindo-se a elas a disseminação do mal.

No mesmo tom, com riqueza de detalhes, Dilson Araújo editou o vídeo O NÓ, ATO HUMANO DELIBERADO, sociabilizando mais de 5.000 cópias, atingindo diversas Instituições e o Poder Público. Um documento de fôlego, consubstanciando em dados, informações convergentes e depoimentos de pessoas que foram atingidas em suas atividades com a lavoura.

Teria sido um ato criminoso? Essa é a linha defendida por praticamente toda a região cacaueira, que até mereceu uma investigação da Polícia Federal.

Entretanto, como sói acontecer no nosso país, mesmo com os prejuízos incomensuráveis, atingindo os três setores da economia, sem se falar na ecologia, com o homem no epicentro da tragédia (produtores e trabalhadores rurais), houve um “pacto de esquecimento”.

Ninguém mais comenta não se tenta reabrir a investigação e tudo fica letárgico.

Talvez a Polícia Federal, à época, não dispusesse de instrumentos complexos de inteligência investigativa, diferentemente de hoje, quando ela age em consonância com o Ministério Público Federal, Receita Federal e a Procuradoria Geral da República, a exemplo da Operação Lava Jato.

Dessa forma, é fundamental que se reabra o caso, no sentido de desvendar tal mistério, pois o interesse em esclarecer ultrapassa os umbrais do Sul da Bahia, haja vista a salvaguarda de outros cultivos, a exemplo do café ou do dendê, que, de repente, por sabotagem, podem também ser contaminados por fungos, bactérias, vírus ou insetos alienígenas.

terça-feira, 25 de julho de 2023

O MANJAR DOS DEUSES

 

Ode ao cacaueiro

Luiz Ferreira da Silva


Como árvore que sou, dou vida ao solo

Finco minhas raízes e extraio os alimentos

Expando meus galhos floridos

Produzo frutos bentos

 

Minha área folear se entrelaça

Absorvo do sol as energias incidentes

Transformo em ricos carboidratos

Alimento os belos frutos pendentes

 

Lanço as folhas ao chão

Num processo de reciclagem plena

A matéria orgânica melhora o solo

Os microrganismos aparecem em cena

 

Em harmonia com as árvores das matas tropicais

Participo da sua função preservacionista

A manutenção vital do solo, da água e do ar

O respeito às Leis da Natureza em vista

 

Dos meus frutos amarelos, a doçura marrom

O chocolate que a todos encanta

Guloseima que alimenta e produz alegrias

Também riqueza para o Homem que me planta.

_______________

(Do livro: O manjar dos deuses é de dar água na boca. Scortecci Editora/SP. 2021).

 

sábado, 24 de junho de 2023

SÃO JOÃO DE CHAPEU DE COURO

 

É SÃO JOÃO!

Luiz Ferreira da Silva, 86.

Neste mês de junho, o Nordeste abre o seu sorriso: é só alegria. Começa no dia de São José. A satisfação do Homem, lá do agreste de Caruaru, que plantou seu pequeno roçado no dia de São José e está se deliciando com o mungunzá, a pamonha, a canjica, sob o calor da fogueira e ouvindo "Olhar pro céu meu amor", do Gonzagão.

E tudo é simples. Basta se atentar ao harmonioso trio instrumental que contagia a todos.  Uma sanfona, uma zabumba e um triângulo. Só, somente só. Faz um maracanã dançar. Não abafa a voz do bom cantor e o povo sente a música, estremece o corpo e aplaude.

Os três simples instrumentos nasceram um para o outro: se entendem, se harmonizam e se sonorizam. Só podiam ser filhos do Gonzagão.

 


Antes eram dois e só depois foi agregado o triângulo, quando o rei do baião viu um garoto vendendo picolé com o instrumento lhe servindo de chamada de atenção ao seu produto. Imediatamente, deu-lhe um estalo e estava formado o trio.

Eu, que nada sei de música, fico encantado e até gostaria que um musicista, a exemplo do pianista João Carlos Martins, estudasse esse fenômeno harmônico, patrimônio sonoro nordestino.

Nada a ver com as bandas de forró de hoje, com uma ruma de instrumentos, produzindo mais zoada do que som melodioso. Talvez, uma estratégia dos cantores – a maioria sem talento – para abafar a sua voz desafinada.

ISSO É O QUE SE CHAMA FELICIDADE!

segunda-feira, 15 de maio de 2023

PAZ NA TERRA CULTIVADA

 



A EMBRAPA, A CEPLAC E A IGNORÂNCIA IDEOLÓGICA. 

Luiz Ferreira da Silva

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador (Solos) aposentado (CEPLAC-BA) e Escritor (Membro da AGRAL).

luizferreira1937@gmail.com

 

 

 

O Brasil, de repente deu um pulo na visão de uma agricultura de altos insumos sob as tecnologias geradas pelos pesquisadores das Ciências Agrárias. E o maior feito foi transformar os cerrados, antes solos improdutivos, numa nova fronteira agrícola sem igual.

Vi nascer a EMBRAPA e até contribui em grupos de trabalho quando da implantação de seus centros, mercê da experiência ceplaqueana. E, em pouco tempo, os resultados foram conduzindo a agricultura brasileira para um patamar de excelência, tornando o país no mais importante celeiro mundial.

Uma revolução nos seus 50 anos. Ao invés do aplauso, o governo atual deixa dúvidas quanto ao seu futuro, seja pela intromissão de pessoas sem qualificação, mas dogmatizadas ideologicamente; seja pelos investimentos e incentivos que vêm decaindo a olhos vistos.

Esse filme já assisti. A CEPLAC, de uma instituição de excelência, tornou-se num “peso-morto”, quando dentre outros fatores, a meritocracia sucumbiu-se à politicagem. Um bando de neófitos, calças-curtas no saber, arrogantes na ideologia copiada, cegos em enxergar um novo meio rural, tecnológico, competitivo e distribuidor de bens.

Vale a pena ressaltar que nenhum país, sobretudo do terceiro mundo, conseguirá a paz social e, tampouco, proverá as cidades de boa qualidade de vida, senão resolver o problema do campo, evitando especialmente o êxodo rural, fator maior da decadência do meio urbano, notadamente das grandes metrópoles. Isso porque não haverá dinheiro suficiente para fornecer condições de trabalho, moradia, sanidade, educação, e saúde para os expulsos da agricultura, jogando-os no caminho da marginalidade, com prejuízos para toda a sociedade.

Por outro lado, a atual distribuição de terras sem as condições necessárias para produzir e se fixar dignamente no campo, parece ser uma estratégia de manter a miséria no meio rural, para que ela não venha perturbar aos urbanos, amedrontados e "engradeados" nas suas casas.

E o atual governo, talvez por ignorância ou mal assessoramento, insiste nesta fajuta reforma agrária, cujo maioria dos assentamentos, a peso de ouro, fracassou e os pequenos produtores vivem em estado de penúria, por não existir um Programa de Desenvolvimento Agrícola (PDA) para essas áreas desapropriadas, muitas delas mais produtivas nas mãos de seus donos.

Aos sem-terra, portanto, dever-se-ia não só facultar o solo para trabalhar, com afinco e desprendimento, mas exigir as condições para produzir com eficiência e eficácia, pois já se foi o tempo da enxada, inserindo-se na economia de mercado com competência, mercê dos ganhos de produtividade e organização dos lavradores, proporcionando o real desenvolvimento social e econômico das comunidades, estabelecendo-se a paz no campo, com ganhos para toda a sociedade.

Não mais individualizada, porém como unidades agrupadas em Cooperativas ou Empresas Associativas, possibilitando ao pequeno produtor usar também tecnologias de altos insumos.

Temos exemplos disso:

           *. Aqui mesmo no Nordeste, Alagoas, surgiu em 1953, implantada pelo suíço-francês René Bertholet, a Cooperativa Pindorama, uma associação comandada por pequenos produtores, onde todos os cooperados, além de fornecedores de matéria-prima, são donos do negócio e participam dos lucros, destacando-se. Como melhor exemplo que deu certo..

*. Lá, na Amazônia, um outro exemplo exitoso de cooperativismo, a CAMTA - Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu – que iniciou suas atividades em 1929, fundada por imigrantes japoneses que buscavam colonizar a região de Tomé-Açu, no Estado do Pará, cultivando o cacaueiro, hortaliças e arroz.

*. E, no Sul,  um exemplo fantástico, a COAMO - Cooperativa Agrícola de Campo Mourão, Paraná que, em pouco mais de 50 anos, o que era uma pequena associação de 79 agricultores de uma região pouco lembrada do Brasil se converteu em uma das maiores potências empresariais do País, reunindo mais de 30 mil cooperados integrados em 73 regiões produtoras nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Assim, o agricultor associado, devidamente amparado e assessorado, e encontrando na coletividade cooperativista a força necessária, é capaz de levar seus sonhos adiante.

Dessa forma, urge, redirecionar o modelo atual de reforma agrária, eliminando sua visão ideológica, eivada de invasões de propriedades e de instituições de pesquisas, com consequências para toda a sociedade e, mais ainda, para aqueles que almejam um pedaço de chão para produzir e se manter em seu ambiente de origem, como cidadãos do bem.

Apesar das estatísticas contraditórias, calcula-se que até o presente, 22 milhões de hectares já teriam sido destinados à reforma agrária, contemplando 440 mil novas famílias, o que significa muita terra (três vezes mais que os Estados de Alagoas e Sergipe juntos) e bastante produtores para alimentar o país.

O Agrônomo Francisco Graziano em entrevista à Revista Veja, em 2014, enfatizava que esse modelo era inviável, haja vista o fracasso da maioria dos assentamentos que se transformou em favelas rurais e quase a metade das famílias assentadas passou os lotes para frente.

E, segundo ele, dos 5.000 assentamentos existentes (2014), não mais do que 100 se enquadram como bem-sucedidos. Em outras palavras, míseros 2 %.

Nesse sentido, ao invés do Congresso instalar uma CPI do MST, que sempre não dá em nada, deveria arregimentar as classes produtoras rurais e implantar um Grupo de Trabalho sob a coordenação da CNA, com técnicos multi/interdisciplinares, para fazer uma avaliação detalhada dos núcleos assentados em todos diversos aspectos, dentre os quais:

 

(a)  Tipologia do agricultor: idade, escolaridade, experiência agropecuária, origem, força de trabalho familiar, grau de satisfação.

(b)  Investimentos do governo, desde a compra da área aos gastos na implantação e manutenção do assentamento;

(c)  Produção antes e depois do assentamento e área expandida;

(d)  Técnicas empregadas e nível tecnológico do assentado;

(e)  Qualificação da mão-de-obra e treinamentos agropecuários efetuados;

(f)   Espécies cultivadas e produtividade dos cultivos;

(g)  Escoamento e venda dos produtos; e

(h)  Relação área cultivada versus família assentada.

 

Assim, ter-se-ia uma visão realista da condução da atual distribuição de terras, permitindo uma reordenação de ideias com vistas a se estabelecer um novo “vade-mécum” de uso da terra pelo pequeno produtor, de modo eficaz e competitivo, contribuindo para o bem-estar da sua família e paz no meio rural, numa convivência compartilhada com as “plantations”. O governo, pois, disporia de informações e dados suficientes para se ajuizar.

 

 Maceió, Al, 13 de maio de 2023.

 

 

 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

CABEÇA VAZIA, OFICINA DO DIABO.

 


CABEÇA VAZIA, OFICINA DO DIABO 

 Aposentei-me em 1992, com 55 anos, e passei a proferir conferências e assessorar projetos de pesquisas em instituições afins. 10 anos depois, com 65 anos, resolvi  me aposentar outra vez. Então, o que fazer? Na vida profissional escrevi 75 trabalhos técnicos, científicos e de divulgação agronômica. Também, alguns livro técnicos. Peguei essa experiência da escrita e, além, de formatar 5 livros-texto no campo das ciências agrárias, com dados remanescentes da vida profissional, passei a me exercitar na área da literatura, sem qualquer pretensão de me tornar um escritor. Seria uma maneira de continuar aprendendo e fertilizando a caixa preta neurônica. Tomei gosto pela coisa e já editei 25 livros. 

Eu coloco isso no mundo cibernético como um incentivo aos aposentados, muitos deles vivendo improdutivamente, quando poderiam descobrir um talento adicional, talvez nem apercebido, diferente daquela função exercida em sua vida profissional. Quantas pessoas se descobrem com mais de 70 anos e passam a ser felizes em outras atividades, preenchendo o tempo e fazendo o bem?. Uns, escrevendo; outros, pintando quadros e até os que viram hábeis marceneiros, artesãos ou ações espontâneas em templos religiosos e/ou abrigos beneficentes. Tudo vale a pena se a alma não for pequena (Fernando Pessoa). 

Ficar sem fazer nada, jamais. 

Vamos que vamos; Tocando em frente! 

------------------------------------------

(Luiz Ferreira da Silva, Maceió, AL, 10 de maio de 2023).

  






 

 


 


 

sábado, 22 de abril de 2023

O MARTELO DA VIDA

 

O MARTELO DA VIDA

Luiz Ferreira da Silva, 86

Engenheiro Agrônomo e Escritor.

luizferreira1937@gmail.com




O RG aponta 60 anos. No Brasil, carimbado - idoso. Realmente, uma idade de muitos pontos de inflexão. É o momento de um NOVO PROJETO DE VIDA.

*. Investir na família prevendo precisar dela mais na frente;

*. Cuidar da coluna, o "calo" futuro, pois acordar com mazelas ou se limitar nas caminhadas são perdas da qualidade de vida;

*. Poupar, pois, o plano de saúde é mais caro e a necessidade de remédios é maior;

*. Ter cuidado com os que lhe acercam, muitos dos quais para lhe roubar, levar vantagem ou perturbar sua Paz.

*. Tirar de seus ombros tudo que começa a pesar, senão se cansa na caminhada.

A partir daí, há necessidade de se manter as pernas em pé, firmes no chão e com boa mobilidade. Também a cabeça fresca, orientando os descartes que pesam em toda a carcaça.

Como ilustração, imaginemos várias tábuas, um bom martelo e pregos de vários tamanhos, inclusive tachinhas. Ao lado uma lata de lixo.

Á medida que a cabeça se anuvia, absorvendo bobagens que poderiam ser delatadas, as tábuas se movimentam e os pregos as acomodam em forma de caixão.

Surge um probleminha, a pessoa o maximiza, e é mais um prego a ser batido. O tamanho dele vai de duas polegadas a uma tachinha, a depender do grau de cooptação do problema. 

Dessa forma, ao invés de usar o martelo, o providencial é encher a lata de lixo, evitando a configuração rápida do famigerado móvel, que pode nos levar prematuramente aos 7 palmos.

Exemplifiquemos. - A fila da Loteria está grande. Ou deixar para depois ou, se resolver a enfrentar, prepare a mente numa boa e não use o martelo. - A empregada não veio e você se estressa. Esquece-a e faça um sanduba com suco de maracujá ou vá se deleitar num fast food no shopping, relembrando tempos jovens.

O mote é: a cabeça emanando bons fluidos e o corpo absorvendo suas ordens, num conluio positivo – mens sano, in corpore sano.

Enfim, deixe o martelo quietinho!

(Maceió, AL, 21 de abril de 2023)

domingo, 16 de abril de 2023

SOS CACAUICULTURA SUL BAIANA.

 A Natureza deu ao homem uma planta que lhe fornece bens, do chocolate ao "dindim", mantendo o ambiente que lhe é afeto. Primeiramente, é capaz de conviver com irmãos da floresta,  num processo de comensalismo, em prol da conservação das espécies,  do solo, da água e dos acidentes geográficos.

Fecham as suas copas, criando um túnel chamado "bate folha", absorvendo a luz solar para seu laboratório de carboidratos, ao tempo que evita que ela chegue aos seus pés, prejudicando as suas raízes e seus consorte micro-organicos, a biofabrica vital à capa orgânica do solo, evitando a erosão.

Assim  o ambiente é protegido das gotas erosivos das chuvas que distribuem suas águas por todo sistema ecológico,  alimentando a rede hídrica, sem causar danos nas encostas.

Como pode se manter produtivo sem se esgotar e nem ao solo, nesta paridade com a floresta raleada, espécies como a massaranduba, o jequitibá, o ipê, o vinhático e até o majestoso jacarandá sobrevivem, constituindo-se repositórios de sementes para a sua perpetuação.

O Sul da Bahia é um fantástico exemplo desta agricultura conservacionista, através da qual manteve intactos os relevos declivosos, os "covoados" profundos e a drenagem dendrítica em filetes hídricos de mesma cota.

Isso é suficiente para se exigir a recuperação  desta região. É uma questão, além de tudo, ecológica. A manutenção de um patrimônio agroambiental nacional.

Isso não quer dizer que não haja nichos em que se plante também cacau com tecnologias avançadas, em outros biomas, com visão economicista. Mas, jamais excludente.

Concluindo: CACAU,  UM BEM DA NATUREZA PARA PROVEITO DO HOMEM E CONSERVAÇAO DO MEIO ÚMIDO TROPICAL.


terça-feira, 11 de abril de 2023

CACAUICULTURA TROPICALISTA.

 

O CACAUEIRO, EM MUDANÇA DE MALA E CUIA?.

Luiz Ferreira da Silva, 86

Pesquisador aposentado da CEPLAC.

Membro representante da AGRAL – Academia Grapiúna de Letras.

 

(Roça de cacau sob mata raleada no Sul da Bahia. 

A Natureza proporcionou ao Homem dos trópicos úmidos, uma árvore frutífera, o cacaueiro, que pudesse ser utilizada sem causar danos ao seu ambiente florestal.

Ao facultar um produto nobre – o chocolate – adicionou características fisiológicas inerentes ao complexo do seu habitat, quente, chuvoso e rico em espécies consortes e fauna agregada.

Teria que ser uma planta que reciclasse com eficiência, mantendo a capa orgânica do solo, fator importante para alimentar as raízes finas, que tem a função de arejar o solo, agregar as partículas e evitar as perdas de nutrientes. Enfim, manter a vida do solo.

E para tanto, sob a mata, recebendo pouca luz, forma um “túnel folear”, com as copas se encontrando, evitando que a luz solar danifique o solo. A luz é para as folhas fazerem a sua “química carboidrática” de transformação – fotossíntese, para os puritanos.

A Natureza ainda deu uma colher de chá. Aumentou a sua “plasticidade fisiológica” – conviver em ambiente mais arejado, a exemplo de uma mata raleada – no limite que ainda mantem o cacaueiro na sua missão fitogeográfica de equilibrar o uso com a conservação.

Neste contexto interativo, o cacaueiro usufrui da fauna, notadamente dos insetos polinizadores, alimentados por frutas em decomposição, oriundos do andar de cima, as árvores tropicais.

A Natureza é sábia. Por um lado, criou o cacaueiro com o fenômeno da incompatibilidade sexuada, que se manifesta quando o pólen de uma flor em uma planta não consegue fecundar os óvulos das flores da mesma planta (autoincompatibilidade) ou de outras plantas (Inter incompatibilidade). E até o cacaueiro “macho” ocorre, com raridade nas plantações, com floração e não produtores de frutos.

 Pelo outro, resolveu a questão no próprio meio. Criou as mosquinhas chamadas “forcipomyas”, e não havendo polinização adequada, a lavoura não produz satisfatoriamente.

Por essa razão, alertou ao Homem sobre a importância delas, incumbindo-lhe de cuidar de seus criadouros, os seus locais naturais, a exemplo das bromélias.

 Chegou o cacaueiro no Sul da Bahia. Uma floresta tal e qual a da sua origem, a Mata Atlântica. Encontrou, aí, condições favoráveis de clima, solo, topografia e rede hídrica, razões da sua expansão, chegando a ocupar 600 mil hectares, com a equivalência de uma fonte de divisas de quase 1 bilhão de dólares em determinado ano.

Os pioneiros souberam mesclar a lavoura com a floresta, sem macular o meio ambiente, satisfazendo com a produção auferida, com elevada liquidez, mantendo preservado o ecossistema e proporcionando um epicentro gerador de riquezas com o produto cacau, cujos reflexos se irradiaram pelas áreas circunvizinhas, criando uma estrutura de bens e de serviços que permitiu, com outras atividades agrícolas e congêneres, distribuir benefícios para todas as comunidades, o que infelizmente não foram aproveitados na magnitude dos bônus.

60 anos atrás, um cacauicultor com pouco esforço, com seus 100 ha de cacau, sem usar maquinaria e tudo no lombo do burro, gastando pouco, em sua área cabrocada, mesmo com uma produtividade não tão expressiva, colhia 4 mil arrobas, que o tornava uma Homem, classe média-alta. Com maior presença e bom solo, muitos chegavam a 6 mil arrobas, tornando-se ricos.

Nessas circunstâncias, uma lavoura nota 10. Produtiva e conservacionista.

Lembro-me quando os jovens agrônomos aportaram na CEPLAC, em 1963/65. Tinham os olhos voltados às filhas dos cacauicultores, identificando-as pelo quantitativo de arrobas que os pais produziam.

Acontece que, agora, a visão do agronegócio é puramente economicista. Esgotar os recursos naturais, lucrar, enriquecer e não pensar alhures.

Ninguém, de boa-fé, é contrário ao uso de tecnologias, mas que sejam no limite das alterações, sobretudo do solo e da água.

A cacauicultora sul-baiana passa por maus momentos, mas ainda pode ser importante ao país e sobretudo à Natureza. Não precisa ser uma cabruca conforme apregoada, mas uma plantação sob uma floresta mais aberta, com sol suficiente para impulsionar a produção.

Muito bem. Esse é o panorama do cultivo do cacau que, a meu ver, tem que ser o epicentro da replantação e da expansão de novas áreas, revitalizando o Sul da Bahia.

De repente, o cacaueiro vira retirante. Emigra para os cerrados, um ambiente sem qualquer identificação. Lembrei-me dos “paus-de-arara” nordestinos que viviam no chão duro e quente das caatingas e tiveram que se adaptar ao frio do clima de São Paulo, fazendo jus à Euclides da Cunha, em Os sertões – o sertanejo, antes de tudo é um forte.

Tomara que o Theobrona cacau, majestoso tropicalista, tenha essa rusticidade adaptativa herdada pela mãe-Natureza!

Sim, agora muito sol em sua folhagem, com possível queda prematura de folhas, exigindo constante renovação com o lançamento de brotos tenros, delícias para os insetos, exigindo altas dosagens de inseticidas, afetando os polinizadores.

Um maior esforço radicular ante ao adensamento do solo pelas máquinas pesadas, repercutindo na performance das radicelas e na dinâmica dos microrganismos.

A irrigação custosa que, se não for bem conduzida, em solos que já apresentam adensamento natural, provoca um sub horizonte de baixa difusão de oxigênio, limitando a produção, como acontece em cafezais de Barreiras, sob pivô central, pelo excesso de água e menor fluidez vertical.

E as nossas queridas mosquinhas? O cacaueiro vai ter saudades.

No entanto, o Homem economicista nem está aí para essas informações e nem tem preocupação com o meio ambiente. O importante são os cifrões que substituem a mina de seus olhos.

Foi assim que assisti um vídeo (Cacauicultura 4.0 – A nova era) em que fala da revolução da cacauicultora do Brasil nos cerrados, usando tecnologias de ponta. Todos enaltecendo a produtividade e sem nenhuma menção ao ilustre chegante, reverenciado pela sua postura conservacionista.

Logicamente, ali estavam pessoas sem visgo com o cacau, que nunca foram picados pelos carapanãs dos cacauais de Ouro Preto (RO) ou dos piuns das velhas plantações do Vale do Jequitinhonha (BA). Nem Diretora da CEPLAC, diferentemente do meu tempo, quando os dirigentes eram forjados na própria casa e em suas veias corriam o mel do cacau, não havendo necessidade de “QI” político.

Mas, no momento, não há dados para ser contra e nem ser a favor; coluna do meio, pois. No entanto, pelo que se conhece, muitos problemas advirão. É preciso de mais tempo e este será o senhor da razão.

Permita-me um alerta, sem qualquer ilação: a agricultura não pode se basear em aritmética, decidida na ponta do lápis, mas em dados agronômicos consistentes. Um exemplo para aclarar essa questão. Em 1980, eu era Diretor do Centro de Pesquisas do Cacau, quando a Ceplac implantou o projeto camarão, justamente sem convicção técnica, mas acreditando num produtor de cacau que viajara ao Equador e se entusiasmara com a carcinicultura. Na ponta do lápis fez diversos cálculos e concluiu que os mangues de Camamu poderiam render mais dólares que o cacau, enriquecendo a região. A CEPLAC embarcou nessa canoa furada e se naufragou, afundando-se na lama dos caranguejos, literalmente.

Finalizando, aconteça o que acontecer, a cacauicultora tropical-conservacionista implantada pelos pioneiros do Sul da Bahia, bem como pelos colonos da Amazônia, não pode ser relegada. Pelo contrário, urge um Programa Integrado de recuperação da primeira, pari passo à expansão pelas terras de origem da segunda.

(Maceió, AL, 11 de abril de 2023)