segunda-feira, 15 de maio de 2023

PAZ NA TERRA CULTIVADA

 



A EMBRAPA, A CEPLAC E A IGNORÂNCIA IDEOLÓGICA. 

Luiz Ferreira da Silva

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador (Solos) aposentado (CEPLAC-BA) e Escritor (Membro da AGRAL).

luizferreira1937@gmail.com

 

 

 

O Brasil, de repente deu um pulo na visão de uma agricultura de altos insumos sob as tecnologias geradas pelos pesquisadores das Ciências Agrárias. E o maior feito foi transformar os cerrados, antes solos improdutivos, numa nova fronteira agrícola sem igual.

Vi nascer a EMBRAPA e até contribui em grupos de trabalho quando da implantação de seus centros, mercê da experiência ceplaqueana. E, em pouco tempo, os resultados foram conduzindo a agricultura brasileira para um patamar de excelência, tornando o país no mais importante celeiro mundial.

Uma revolução nos seus 50 anos. Ao invés do aplauso, o governo atual deixa dúvidas quanto ao seu futuro, seja pela intromissão de pessoas sem qualificação, mas dogmatizadas ideologicamente; seja pelos investimentos e incentivos que vêm decaindo a olhos vistos.

Esse filme já assisti. A CEPLAC, de uma instituição de excelência, tornou-se num “peso-morto”, quando dentre outros fatores, a meritocracia sucumbiu-se à politicagem. Um bando de neófitos, calças-curtas no saber, arrogantes na ideologia copiada, cegos em enxergar um novo meio rural, tecnológico, competitivo e distribuidor de bens.

Vale a pena ressaltar que nenhum país, sobretudo do terceiro mundo, conseguirá a paz social e, tampouco, proverá as cidades de boa qualidade de vida, senão resolver o problema do campo, evitando especialmente o êxodo rural, fator maior da decadência do meio urbano, notadamente das grandes metrópoles. Isso porque não haverá dinheiro suficiente para fornecer condições de trabalho, moradia, sanidade, educação, e saúde para os expulsos da agricultura, jogando-os no caminho da marginalidade, com prejuízos para toda a sociedade.

Por outro lado, a atual distribuição de terras sem as condições necessárias para produzir e se fixar dignamente no campo, parece ser uma estratégia de manter a miséria no meio rural, para que ela não venha perturbar aos urbanos, amedrontados e "engradeados" nas suas casas.

E o atual governo, talvez por ignorância ou mal assessoramento, insiste nesta fajuta reforma agrária, cujo maioria dos assentamentos, a peso de ouro, fracassou e os pequenos produtores vivem em estado de penúria, por não existir um Programa de Desenvolvimento Agrícola (PDA) para essas áreas desapropriadas, muitas delas mais produtivas nas mãos de seus donos.

Aos sem-terra, portanto, dever-se-ia não só facultar o solo para trabalhar, com afinco e desprendimento, mas exigir as condições para produzir com eficiência e eficácia, pois já se foi o tempo da enxada, inserindo-se na economia de mercado com competência, mercê dos ganhos de produtividade e organização dos lavradores, proporcionando o real desenvolvimento social e econômico das comunidades, estabelecendo-se a paz no campo, com ganhos para toda a sociedade.

Não mais individualizada, porém como unidades agrupadas em Cooperativas ou Empresas Associativas, possibilitando ao pequeno produtor usar também tecnologias de altos insumos.

Temos exemplos disso:

           *. Aqui mesmo no Nordeste, Alagoas, surgiu em 1953, implantada pelo suíço-francês René Bertholet, a Cooperativa Pindorama, uma associação comandada por pequenos produtores, onde todos os cooperados, além de fornecedores de matéria-prima, são donos do negócio e participam dos lucros, destacando-se. Como melhor exemplo que deu certo..

*. Lá, na Amazônia, um outro exemplo exitoso de cooperativismo, a CAMTA - Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu – que iniciou suas atividades em 1929, fundada por imigrantes japoneses que buscavam colonizar a região de Tomé-Açu, no Estado do Pará, cultivando o cacaueiro, hortaliças e arroz.

*. E, no Sul,  um exemplo fantástico, a COAMO - Cooperativa Agrícola de Campo Mourão, Paraná que, em pouco mais de 50 anos, o que era uma pequena associação de 79 agricultores de uma região pouco lembrada do Brasil se converteu em uma das maiores potências empresariais do País, reunindo mais de 30 mil cooperados integrados em 73 regiões produtoras nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Assim, o agricultor associado, devidamente amparado e assessorado, e encontrando na coletividade cooperativista a força necessária, é capaz de levar seus sonhos adiante.

Dessa forma, urge, redirecionar o modelo atual de reforma agrária, eliminando sua visão ideológica, eivada de invasões de propriedades e de instituições de pesquisas, com consequências para toda a sociedade e, mais ainda, para aqueles que almejam um pedaço de chão para produzir e se manter em seu ambiente de origem, como cidadãos do bem.

Apesar das estatísticas contraditórias, calcula-se que até o presente, 22 milhões de hectares já teriam sido destinados à reforma agrária, contemplando 440 mil novas famílias, o que significa muita terra (três vezes mais que os Estados de Alagoas e Sergipe juntos) e bastante produtores para alimentar o país.

O Agrônomo Francisco Graziano em entrevista à Revista Veja, em 2014, enfatizava que esse modelo era inviável, haja vista o fracasso da maioria dos assentamentos que se transformou em favelas rurais e quase a metade das famílias assentadas passou os lotes para frente.

E, segundo ele, dos 5.000 assentamentos existentes (2014), não mais do que 100 se enquadram como bem-sucedidos. Em outras palavras, míseros 2 %.

Nesse sentido, ao invés do Congresso instalar uma CPI do MST, que sempre não dá em nada, deveria arregimentar as classes produtoras rurais e implantar um Grupo de Trabalho sob a coordenação da CNA, com técnicos multi/interdisciplinares, para fazer uma avaliação detalhada dos núcleos assentados em todos diversos aspectos, dentre os quais:

 

(a)  Tipologia do agricultor: idade, escolaridade, experiência agropecuária, origem, força de trabalho familiar, grau de satisfação.

(b)  Investimentos do governo, desde a compra da área aos gastos na implantação e manutenção do assentamento;

(c)  Produção antes e depois do assentamento e área expandida;

(d)  Técnicas empregadas e nível tecnológico do assentado;

(e)  Qualificação da mão-de-obra e treinamentos agropecuários efetuados;

(f)   Espécies cultivadas e produtividade dos cultivos;

(g)  Escoamento e venda dos produtos; e

(h)  Relação área cultivada versus família assentada.

 

Assim, ter-se-ia uma visão realista da condução da atual distribuição de terras, permitindo uma reordenação de ideias com vistas a se estabelecer um novo “vade-mécum” de uso da terra pelo pequeno produtor, de modo eficaz e competitivo, contribuindo para o bem-estar da sua família e paz no meio rural, numa convivência compartilhada com as “plantations”. O governo, pois, disporia de informações e dados suficientes para se ajuizar.

 

 Maceió, Al, 13 de maio de 2023.

 

 

 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

CABEÇA VAZIA, OFICINA DO DIABO.

 


CABEÇA VAZIA, OFICINA DO DIABO 

 Aposentei-me em 1992, com 55 anos, e passei a proferir conferências e assessorar projetos de pesquisas em instituições afins. 10 anos depois, com 65 anos, resolvi  me aposentar outra vez. Então, o que fazer? Na vida profissional escrevi 75 trabalhos técnicos, científicos e de divulgação agronômica. Também, alguns livro técnicos. Peguei essa experiência da escrita e, além, de formatar 5 livros-texto no campo das ciências agrárias, com dados remanescentes da vida profissional, passei a me exercitar na área da literatura, sem qualquer pretensão de me tornar um escritor. Seria uma maneira de continuar aprendendo e fertilizando a caixa preta neurônica. Tomei gosto pela coisa e já editei 25 livros. 

Eu coloco isso no mundo cibernético como um incentivo aos aposentados, muitos deles vivendo improdutivamente, quando poderiam descobrir um talento adicional, talvez nem apercebido, diferente daquela função exercida em sua vida profissional. Quantas pessoas se descobrem com mais de 70 anos e passam a ser felizes em outras atividades, preenchendo o tempo e fazendo o bem?. Uns, escrevendo; outros, pintando quadros e até os que viram hábeis marceneiros, artesãos ou ações espontâneas em templos religiosos e/ou abrigos beneficentes. Tudo vale a pena se a alma não for pequena (Fernando Pessoa). 

Ficar sem fazer nada, jamais. 

Vamos que vamos; Tocando em frente! 

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(Luiz Ferreira da Silva, Maceió, AL, 10 de maio de 2023).