OS TABULEIROS DE MACEIÓ:
OS SOLOS, AS CAMADAS E O CAOS AMBIENTAL
Luiz Ferreira da Silva, 86
Pesquisador aposentado/Solos Tropicais, CEPLAC/BA.
luizferreira1937@gmail.com
Os tabuleiros se originam do terciário – formação barreiras, cuja litologia
é formada por arenitos conglomerados, camadas e lentes de argila, arenitos não
consolidados e lentes de seixos, conforme meu colega Agusto Pedreira (im),
estudioso em geologia de áreas sedimentares.
Em certos trechos do litoral, esses sedimentos – esculpidos em mesa –
são cortados por falésias abruptas, como acontece em Porto Seguro (BA) e na
Lagoa Azeda/AL, além de outros locais do Rio Grande do Norte à Macaé/RJ.
Trata-se, pois, de materiais retrabalhados sobre os quais sob a ação dos
fatores de formação do solo (clima, relevo e a biosfera) formam os solos
identificados com a maior ou menor ação de um deles ou combinada.
O autor estudou perfis de solos em topos sequenciais, bem como
camadas litológicas até 30 metros de profundidade, em corte de estrada, com
vistas a detectar as variações do solo com a posição topográfica (carreamento)
e com a posição do sedimento (estratificação cruzada), no intuito de verificar a
interação geoecológica na formação dos perfis.
Em razão da natureza físico-química do material de origem, os solos são
profundos, pobres em nutrientes, carentes em minerais primários e de baixa
retenção de água. Argila de baixa atividade coloidal; dominância de sesquióxidos
de ferro e alumínio.
Pois bem, isso é o que se pode ver, apalpar e sentir em trincheiras. Ou
seja, os horizontes do solo, de 0 a 200 cm. O mundo do pedólogo, como eu.
Mas as camadas para baixo também lhe interessa, sobretudo os
depósitos de água, através de análises de camadas profundas dotadas de areias
grossas, contíguas aos argilitos e/ou folhelhos.
Essa estratigrafia é variável e, no caso de Maceió/AL possui uma camada
de acumulação de sal, oriunda da evaporação da água salgada
marinha, em tempos do plioceno recente. Uma riqueza para a indústria química.
(Estratigrafia e retirada do sal pela Brasken, (Poliana Casemiro, g105/12/2023).
É muito comum a perfuração de poços, explorando camadas
acumuladoras de água, geralmente situadas a uma profundidade de 80 metros.
Neste caso, é preciso se controlar a vasão retirada, utilizando com parcimônia,
a fim não desequilibrar o sistema hídrico.
Há casos, ao se retirar excessivamente, o repositório baixar a um ponto
tal que, através do lençol freático, o mar penetrar, salinizar e reduzir a qualidade
da água, como aconteceu em zonas concentradas desses poços nos tabuleiros
de Maceió/Al.
A Natureza nos dá, mas exige respeito às suas Leis. Nunca esquecer
disso!
Esse introito até longo é para tentar entender a catástrofe ecológica
acontecida em diversos bairros da capital alagoana, ocasionando danos
irreparáveis a uma população de mais de 50 mil habitantes, mas não suficientes
para sensibilizar o poder público.
Durante décadas, a Braskem minerou o sal-gema, explorando a camada
de sais, desrespeitando regras ecológicas, sobretudo referentes à manutenção
do equilíbrio estratigráfico da formação geológica, aqui descrita.
É muito simples, para o leitor entender, de modo sucinto e sem muito
‘revorteio”.

Imaginemos o gostoso bolo de roloque os pernambucanos
inventaram para deleite de nós todos.
Fig. 2. Bolo de rolo/rocambole com diversas camadas.
Com um garfo, um abelhudo vai cutucando uma camada que mais lhe
atrai no interior do bolo. Se pouca coisa, desinforma o bolo, mas sem muitas
consequências. Mas ele não se contenta e manda ver na sua gula por doces. O
que acontece? O bolo se desmorona.
A Braskem no seu imediatismo e afã de ganhos sem comedimentos, deu
uma do nosso glutão, extraindo o sal de modo predatório, ocasionado o
desequilíbrio das camadas, afetando o chão que as recobre.
O buraco que apareceu neste ano de 2023 teve um benefício: - lembrar
ao poder público e à sociedade, nos seus diversos segmentos, um crime que
vem lá de trás, impune na magnitude da agressão ambiental.
Essa celeuma, esse corre-corre de hoje com a mídia divulgando
inverdades e os políticos se apiedando dos pobres, talvez seja em razão das
próximas eleições de 2024.
A Natureza, em sua sabedoria, a tudo assiste e se lamenta em ter agido
com firmeza, como sempre faz ao ter suas Leis contrariadas. (Maceió, Al,
05/12/2.023)
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