A
EMBRAPA, A CEPLAC E A IGNORÂNCIA IDEOLÓGICA.
Luiz
Ferreira da Silva
Engenheiro
Agrônomo, Pesquisador (Solos) aposentado (CEPLAC-BA) e Escritor (Membro da
AGRAL).
O Brasil, de repente
deu um pulo na visão de uma agricultura de altos insumos sob as tecnologias
geradas pelos pesquisadores das Ciências Agrárias. E o maior feito foi
transformar os cerrados, antes solos improdutivos, numa nova fronteira agrícola
sem igual.
Vi nascer a EMBRAPA
e até contribui em grupos de trabalho quando da implantação de seus centros,
mercê da experiência ceplaqueana. E, em pouco tempo, os resultados foram
conduzindo a agricultura brasileira para um patamar de excelência, tornando o
país no mais importante celeiro mundial.
Uma revolução nos
seus 50 anos. Ao invés do aplauso, o governo atual deixa dúvidas quanto ao seu
futuro, seja pela intromissão de pessoas sem qualificação, mas dogmatizadas
ideologicamente; seja pelos investimentos e incentivos que vêm decaindo a olhos
vistos.
Esse filme já
assisti. A CEPLAC, de uma instituição de excelência, tornou-se num
“peso-morto”, quando dentre outros fatores, a meritocracia sucumbiu-se à
politicagem. Um bando de neófitos, calças-curtas no saber, arrogantes na
ideologia copiada, cegos em enxergar um novo meio rural, tecnológico,
competitivo e distribuidor de bens.
Vale a pena
ressaltar que nenhum país, sobretudo do terceiro mundo, conseguirá a paz social
e, tampouco, proverá as cidades de boa qualidade de vida, senão resolver o
problema do campo, evitando especialmente o êxodo rural, fator maior da
decadência do meio urbano, notadamente das grandes metrópoles. Isso porque não
haverá dinheiro suficiente para fornecer condições de trabalho, moradia,
sanidade, educação, e saúde para os expulsos da agricultura, jogando-os no
caminho da marginalidade, com prejuízos para toda a sociedade.
Por outro lado, a
atual distribuição de terras sem as condições necessárias para produzir e se
fixar dignamente no campo, parece ser uma estratégia de manter a miséria no
meio rural, para que ela não venha perturbar aos urbanos, amedrontados e
"engradeados" nas suas casas.
E o atual governo,
talvez por ignorância ou mal assessoramento, insiste nesta fajuta reforma
agrária, cujo maioria dos assentamentos, a peso de ouro, fracassou e os
pequenos produtores vivem em estado de penúria, por não existir um Programa
de Desenvolvimento Agrícola (PDA) para essas áreas desapropriadas,
muitas delas mais produtivas nas mãos de seus donos.
Aos sem-terra,
portanto, dever-se-ia não só facultar o solo para trabalhar, com afinco e
desprendimento, mas exigir as condições para produzir com eficiência e
eficácia, pois já se foi o tempo da enxada, inserindo-se na economia de mercado
com competência, mercê dos ganhos de produtividade e organização dos
lavradores, proporcionando o real desenvolvimento social e econômico das
comunidades, estabelecendo-se a paz no campo, com ganhos para toda a sociedade.
Não mais
individualizada, porém como unidades agrupadas em Cooperativas ou Empresas
Associativas, possibilitando ao pequeno produtor usar também tecnologias de
altos insumos.
Temos exemplos
disso:
*. Aqui mesmo no Nordeste, Alagoas,
surgiu em 1953, implantada pelo suíço-francês René Bertholet, a Cooperativa
Pindorama, uma associação comandada por pequenos produtores, onde todos os
cooperados, além de fornecedores de matéria-prima, são donos do negócio e
participam dos lucros, destacando-se. Como melhor exemplo que deu certo..
*.
Lá, na Amazônia, um outro exemplo exitoso de cooperativismo, a CAMTA - Cooperativa Agrícola Mista de
Tomé-Açu – que iniciou suas atividades em 1929, fundada por imigrantes
japoneses que buscavam colonizar a região de Tomé-Açu, no Estado do Pará,
cultivando o cacaueiro, hortaliças e arroz.
*. E, no
Sul, um exemplo fantástico, a COAMO -
Cooperativa Agrícola de Campo Mourão, Paraná que, em pouco mais de 50 anos, o
que era uma pequena associação de 79 agricultores de uma região pouco lembrada
do Brasil se converteu em uma das maiores potências empresariais do País,
reunindo mais de 30 mil cooperados integrados em 73 regiões produtoras nos
Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Assim, o agricultor
associado, devidamente amparado e assessorado, e encontrando na coletividade
cooperativista a força necessária, é capaz de levar seus sonhos adiante.
Dessa forma, urge,
redirecionar o modelo atual de reforma agrária, eliminando sua visão ideológica,
eivada de invasões de propriedades e de instituições de pesquisas, com
consequências para toda a sociedade e, mais ainda, para aqueles que almejam um
pedaço de chão para produzir e se manter em seu ambiente de origem, como
cidadãos do bem.
Apesar das estatísticas contraditórias, calcula-se que até
o presente, 22 milhões de hectares já teriam sido destinados à reforma agrária,
contemplando 440 mil novas famílias, o que significa muita terra (três vezes
mais que os Estados de Alagoas e Sergipe juntos) e bastante produtores para
alimentar o país.
O Agrônomo Francisco Graziano em entrevista à Revista Veja,
em 2014, enfatizava que esse modelo era inviável, haja vista o fracasso da
maioria dos assentamentos que se transformou em favelas rurais e quase a metade
das famílias assentadas passou os lotes para frente.
E, segundo ele, dos 5.000 assentamentos existentes (2014),
não mais do que 100 se enquadram como bem-sucedidos. Em outras palavras,
míseros 2 %.
Nesse sentido, ao invés do Congresso instalar uma CPI do
MST, que sempre não dá em nada, deveria arregimentar as classes produtoras
rurais e implantar um Grupo de Trabalho sob a coordenação da CNA, com
técnicos multi/interdisciplinares, para fazer uma avaliação detalhada dos
núcleos assentados em todos diversos aspectos, dentre os quais:
(a) Tipologia
do agricultor: idade, escolaridade, experiência agropecuária, origem, força de
trabalho familiar, grau de satisfação.
(b) Investimentos
do governo, desde a compra da área aos gastos na implantação e manutenção do
assentamento;
(c) Produção
antes e depois do assentamento e área expandida;
(d) Técnicas
empregadas e nível tecnológico do assentado;
(e) Qualificação
da mão-de-obra e treinamentos agropecuários efetuados;
(f) Espécies
cultivadas e produtividade dos cultivos;
(g) Escoamento
e venda dos produtos; e
(h) Relação
área cultivada versus família assentada.
Assim, ter-se-ia uma visão realista da condução da atual
distribuição de terras, permitindo uma reordenação de ideias com vistas a se
estabelecer um novo “vade-mécum” de uso da terra pelo pequeno produtor, de modo
eficaz e competitivo, contribuindo para o bem-estar da sua família e paz no
meio rural, numa convivência compartilhada com as “plantations”. O governo,
pois, disporia de informações e dados suficientes para se ajuizar.
Maceió, Al, 13 de maio de 2023.
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