OS INTELIGENTES BURROS DO CACAU (In. Livro – “CACAU, BEM DA NATUREZA PARA PROVEITO DO HOMEM” – Luiz Ferreira & A. C. Moreau).
O burro é um híbrido
resultante do cruzamento do jumento com a égua ou do cavalo com a jumenta, com
características de ambas as raças, notadamente rusticidade e pernas longas que
lhe proporciona maior velocidade e adaptação a caminhos acidentados. Como é
sabido, a cacauicultura fora implantada em condições de relevo fortemente
ondulados e até pedregosos, além de não dispor de infraestrutura viária,
impossibilitando o transporte em veículos motorizados. Por necessidade, o
pioneiro recorreu ao burro por inteligência em mão dupla. Este, ajudando-o nas
tarefas pesadas e aquele provendo-o de um bom capim colonião acrescido de colmos
de cana e outros produtos da Natureza, incluindo a própria casaca do cacau. Em
seu trabalho árduo, ora subindo e descendo pelas ladeiras íngremes com os
“caçoás” pesados de cacau mole, ora trotando pelas ruas levando as sementes
beneficiadas aos armazéns de exportação, esse forte muar se destacou na lavoura
cacaueira. E, ademais, outras cargas em suas jornadas cotidianas, inclusive nas
cidades. Quem não se lembra dos areeiros do rio cachoeira, em Itabuna, com seus
fortes muares carregando areias para as construções? E dessa forma, passou a ser
um instrumento agrícola importante, sem o qual milhares de cacauais não seriam
viáveis nas áreas montanhosas de Morro Redondo, na serra das trempes, nos altos
de Camacã, no vale rochoso do Almada, nos pendentes íngremes de Ubaitaba;
tampouco nos solos encharcados dos grandes rios, Pardo e Jequitinhonha. Vale a
pena lembrar o jumento, também com função relevante no Nordeste. Luiz Gonzaga,
assim descreveu seu incansável trabalho pelas terras secas e vegetação
espinhenta, cantando: Arrastou lenha, madeira, pedra, cal, cimento, tijolo,
telha Fez açude, estrada de rodagem, Carregou água pra casa do homem Fez a feira
e serviu de montaria Também o Padre Vieira que, em sua defesa, tentando
conscientizar o homem valor daquele aparente frágil animal, alcunhou a frase – o
jumento é nosso irmão, em gratidão ao seu trabalho em prol do homem do
semiárido, tanto no meio rural, quanto no urbano, ora carregando os produtos
agrícolas, ora os ancorotes de água para saciar a sede .da população. Igual
razão o burro do cacau, assim poderia ser considerado na região, pois como
aquele dá o seu suor e nem sempre é recompensado. Pois bem. É difícil entender a
razão pela qual o homem xinga de burro referindo-se a falta de inteligência ou a
um ato insensato de alguém, numa interpretação sem sentido e destituída de
razão, denegrindo esses animais, tão úteis?! Então, gente, sobretudo do
Sul-da-Bahia, já é tempo do merecido reconhecimento ao “burro-animal”, pelo seu
trabalho fundamental à lavoura cacaueira, eliminando-se, ademais, a pecha de
“burro-acéfalo” dada pelo homem, injustamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário