sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A GAMELEIRA SECULAR

A GAMELEIRA DOS PESCADORES DA PAJUÇARA
 Luiz Ferreira da Silva Eng. Agrônomo e Escritor 
luizferreira1937@gmail.com  




A gameleira é uma árvore frondosa, de 10 a 20 metros, muito copada, cujas raízes se espalham, formando uma base característica da espécie (Fícus adhatodifolia), em forma tabular, cujo nome se deve ao seu uso em confecção de gamelas. 
Na praia da Pajuçara, em frente ao Posto-BR/Hotel Praia Bonita, existe um exemplar, com tronco de mais de 03 metros de área da circunferência (2¶r; aulas do Grande Mestre Benedito de Morais/1955, Praça das Graças), com mais de 80 anos (estimados) de vida, em cuja sombra os pescadores, ainda hoje, esculpem e consertam os seus instrumentos de trabalho, notadamente as pequenas embarcações. 
Com meu colega, de idos tempos do Colégio Estadual, Walter Auto Monteiro Guimarães, visitamos, hoje, a bela árvore que, no momento, se encontra com algumas galhas “peladas”, mas cheias de frutos, externando a sua vitalidade e a sua profícua capacidade de perpetuação da espécie. Faz gosto ver! Visite-a, prezado leitor! Ela se destaca na areia quartzoza da praia, quase colada a ciclo via, recebendo os fluidos marinhos e a gratidão dos homens do mar, se bem que já ressente um odor diferente, fruto da ação devastadora do homem (poluição). Deve ficar preocupada, assim imagino, ao mirar os edifícios, no outro lado da rua, temerosa por uma inconsequente urbanização, que pudesse vir em seu sacrifício, numa insensatez de um burocrata qualquer ao achar que ela é um estorvo, alegando que as suas raízes poderiam danificar as novas calçadas, ordenando o impiedoso motosserra nela. E isso não é miragem. Ela tem razão. Um dos pescadores, que se encontrava consertando uma canoa, perguntou-me sobre um projeto da Prefeitura, divulgado na TV, temeroso de uma ação danosa, argumentando que ela era muito importante para os pescadores que, há dezenas de anos, deliciam-se com a sua sombra, uma espécie de abraço acolhedor e amigo. A gameleira, pois, é do bem! O homem, não. Assim como o oitizeiro, seu amigo-irmão, que dista uns dois quilômetros, situado na alameda de coqueiros, da Pajuçara, próxima ao “Spettus”, ela requer consideração, respeito e amor. 
Aí, sim, aos seus pés, dever-se-ia construir uma miniestrutura para lhe proteger e fornecer atrativos de visitação (bancos, iluminação e gramado). As pessoas, no seu caminhar apressado, nas manhãs ensolaradas, não têm tempo para notar a sua presença, mesmo passando rente àquela árvore grandiosa, esquecendo-se que, para um “Cooper perfeito”, é preciso se adicionar aos gastos físicos, os ganhos espirituais, através das emanações da natureza, vivenciando-as. 
A oponente gameleira deveria fazer parte desse ritual. Com certeza, ela só tem a fornecer, sem querer nada em troca. Em seu nome, mesmo sem nenhuma delegação, porém evocando a minha profissão, conclamo a todos pela sua “reverenciação”, ao tempo em que solicito da Prefeitura e de Órgãos do Meio Ambiente, que a tombem, mesmo de forma informal, como um patrimônio da bela enseada e, ademais, como um bem consagrado e de “uso capião” dos humildes e bravos homens do mar da Pajuçara. (Maceió, 29 de setembro de 2.005).

Nenhum comentário:

Postar um comentário