terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O OITIZEIRO DA PAJUÇARA


 

SOB A SOMBRA DO OITIZEIRO DA PAJUÇARA

Luiz Ferreira da Silva 

(Artigo, In Sob a Sombra do Oitizeiro da Pajuçara. Livro publicado pela Scortecci, Editora, SP, 2009. 133 páginas). Edição esgotada 

A espécie Licania tomentosa (Benth), conhecida vulgarmente como oiti, é bastante utilizada na arborização urbana, por possuir folhas perenes, sistema radicular profundo que não afeta o calçamento, e copa densa, que propicia excelente sombreamento.

Além disso, adapta-se a regiões de clima bastante quente, como o do norte e nordeste do país e de regiões litorâneas. Sua propagação se faz por semeadura em pequenos balaios de polietileno, com posterior transplante para o local definitivo.

Quase todas as manhãs, em minha caminhada pela orla de Maceió/AL, aprecio e reverencio o frondoso, secular e belo oitizeiro da Praia da Pajuçara. Com uma copa densa, espalha uma sombra por mais de 200 metros quadrados, para deleite de todos; e gratuitamente.

E, durante certa época do ano, março a abril, fornece frutos, de um amarelo ouro, sem igual, que apodrecem no chão, apreciados pelos organismos do solo, por sua fonte energética. No meu tempo, era as crianças que se deleitavam, após deixá-los ficarem murchos, enrugados, num canto qualquer (eu colocava dentro de uma gaveta), quando desaparecia o “travo” dos frutos maduros ou verdoengos, tornando-os saborosos.

Hoje, elas são educadas de outra forma. Raramente, comem frutas. Não sabem o gosto de um sapoti, de uma manga espada, de uma cajarana, de uma goiaba, de um abacaxi, de uma pitomba, de uma graviola e, tampouco, de um ácido umbu.

Fico até a pensar que, tão logo, muitas crianças vão pensar que as frutas, as verduras e os legumes, nascem nas gôndolas dos hipermercados, desconhecendo o valor do meio rural e o sentimento pelo homem rural que alimenta os citadinos.

Por outro lado, também observo o comportamento dos adultos dessa atual geração; novo milênio. Passam sem lhe ver e nem sabem o seu nome. E há aqueles, que mesmo morando no Bairro, o desconhecem.

Não há que se admirar, pois toda a sociedade já perdeu a sua sensibilidade humana. Nem as crianças pedintes, os meninos de rua e os catadores de lixo os comovem, mesmo utilizando a sua dadivosa sombra! Por que se preocupariam com uma árvore?

O Poder Público nem quer saber. Vinha promovendo, no final do ano, tal de Maceió Fest, carnaval fora de época para faturamento das bandas baianas e alegria de empresários do setor. Na implantação estrutural, mutilava os seus amigos e vizinhos – coqueiros – para a sua tristeza, pois a árvore, diferentemente da gente, é um ser solidário. Uma vez lhe ameaçaram, podando-lhe galhas, para extensão dos camarotes das elites. Estas também insensíveis a ele jogam latas de bebidas aos seus pés.

Felizmente, a Prefeitura, nesses últimos anos, transferiu o evento. Creio que foi por outras razões, mas valeu e as árvores agradecem. Provavelmente, pelas novas calçadas (ornamentação do canteiro central) e também pela pressão dos moradores, preocupados com o seu bem-estar. Com certeza, nem o esbelto oitizeiro e nem a bela alameda de coqueiros pesaram na decisão. Mas valeu e espero que não lhe incomodem mais.

E as ONGs; os Órgãos Ambientais; os Esquerdistas, os Ecochatos e os Socialites festivos? Gostam mais de ôba-ôba: abraçar uma árvore, sob os holofotes televisivos; quebrar as gaiolas de passarinhos; organizar passeatas com bandeirinhas, camisas com mico leão no peito e tudo mais; fazer um espalhafato na apreensão de um caminhão de madeira e plantar árvores, sem cuidar depois. É só festa, aparecer e discursar.

Enquanto isso acontece por aqui, lá em Florianópolis (SC), se faz devoção a uma bela figueira, também secular, numa certa Praça Pública, que nos deixou encantados; eu e minha esposa, Airma. As Empresas de Turismo a utilizam como atrativo, fazendo parte de seu roteiro, explorando inteligentemente uma crendice popular. É bonito ver os turistas dando várias voltas, ao seu redor, entoando cantos e solicitando a sua proteção, num espetáculo simples e maravilhoso de se apreciar - um monte de adultos e idosos numa alegria só, correndo ao redor de uma árvore, como crianças fossem.

Só me resta, mesmo sem valer muita coisa, expressar ao oitizeiro da Pajuçara e aos seus amigos, os coqueiros, a minha solidariedade e admiração, como agrônomo e como defensor da natureza.

 

 

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