SOB A SOMBRA DO OITIZEIRO DA PAJUÇARA
Luiz Ferreira da Silva
(Artigo, In Sob a Sombra do Oitizeiro
da Pajuçara. Livro publicado pela Scortecci, Editora, SP, 2009.
133 páginas). Edição esgotada
A espécie Licania tomentosa
(Benth), conhecida vulgarmente como oiti, é bastante utilizada na arborização
urbana, por possuir folhas perenes, sistema radicular profundo que não afeta o
calçamento, e copa densa, que propicia excelente sombreamento.
Além disso, adapta-se a regiões de clima bastante
quente, como o do norte e nordeste do país e de regiões litorâneas. Sua
propagação se faz por semeadura em pequenos balaios de polietileno, com
posterior transplante para o local definitivo.
Quase todas as manhãs, em minha caminhada pela
orla de Maceió/AL, aprecio e reverencio o frondoso, secular e belo oitizeiro da Praia da Pajuçara.
Com uma copa densa, espalha uma sombra por mais de
E, durante certa época do ano, março a abril, fornece
frutos, de um amarelo ouro, sem igual, que apodrecem no chão, apreciados pelos
organismos do solo, por sua fonte energética. No meu tempo, era as crianças que
se deleitavam, após deixá-los ficarem murchos, enrugados, num canto qualquer
(eu colocava dentro de uma gaveta), quando desaparecia o “travo” dos frutos
maduros ou verdoengos, tornando-os saborosos.
Hoje, elas são educadas de outra forma. Raramente,
comem frutas. Não sabem o gosto de um sapoti, de uma manga espada, de uma
cajarana, de uma goiaba, de um abacaxi, de uma pitomba, de uma graviola e,
tampouco, de um ácido umbu.
Fico até a pensar que, tão logo, muitas crianças
vão pensar que as frutas, as verduras e os legumes, nascem nas gôndolas dos
hipermercados, desconhecendo o valor do meio rural e o sentimento pelo homem
rural que alimenta os citadinos.
Por outro lado, também observo o comportamento dos
adultos dessa atual geração; novo milênio. Passam sem lhe ver e nem sabem o seu
nome. E há aqueles, que mesmo morando no Bairro, o desconhecem.
Não há que se admirar, pois toda a sociedade já
perdeu a sua sensibilidade humana. Nem as crianças pedintes, os meninos de rua
e os catadores de lixo os comovem, mesmo utilizando a sua dadivosa sombra! Por
que se preocupariam com uma árvore?
O Poder Público nem quer saber. Vinha promovendo,
no final do ano, tal de Maceió Fest, carnaval fora de época para faturamento
das bandas baianas e alegria de empresários do setor. Na implantação
estrutural, mutilava os seus amigos e vizinhos – coqueiros – para a sua
tristeza, pois a árvore, diferentemente da gente, é um ser solidário. Uma vez
lhe ameaçaram, podando-lhe galhas, para extensão dos camarotes das elites. Estas
também insensíveis a ele jogam latas de bebidas aos seus pés.
Felizmente, a Prefeitura, nesses últimos anos,
transferiu o evento. Creio que foi por outras razões, mas valeu e as árvores
agradecem. Provavelmente, pelas novas calçadas (ornamentação do canteiro
central) e também pela pressão dos moradores, preocupados com o seu bem-estar.
Com certeza, nem o esbelto oitizeiro
e nem a bela alameda de coqueiros pesaram na decisão. Mas valeu e espero que
não lhe incomodem mais.
E as ONGs; os Órgãos Ambientais; os Esquerdistas,
os Ecochatos e os Socialites festivos? Gostam mais de ôba-ôba: abraçar uma
árvore, sob os holofotes televisivos; quebrar as gaiolas de passarinhos;
organizar passeatas com bandeirinhas, camisas com mico leão no peito e tudo
mais; fazer um espalhafato na apreensão de um caminhão de madeira e plantar
árvores, sem cuidar depois. É só festa, aparecer e discursar.
Enquanto isso acontece por aqui, lá em Florianópolis
(SC), se faz devoção a uma bela figueira, também secular, numa certa Praça
Pública, que nos deixou encantados; eu e minha esposa, Airma. As Empresas de
Turismo a utilizam como atrativo, fazendo parte de seu roteiro, explorando
inteligentemente uma crendice popular. É bonito ver os turistas dando várias
voltas, ao seu redor, entoando cantos e solicitando a sua proteção, num
espetáculo simples e maravilhoso de se apreciar - um monte de adultos e idosos numa
alegria só, correndo ao redor de uma árvore, como crianças fossem.
Só me resta,
mesmo sem valer muita coisa, expressar ao oitizeiro da Pajuçara e aos seus amigos, os coqueiros, a minha
solidariedade e admiração, como agrônomo e como defensor da natureza.
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