sábado, 22 de março de 2025

LUIZ GONZAGA

O REI DO BAIÃO Luiz Ferreira da Silva, 88 Apesar do Brasil ser uma República, Luiz Gonzaga é Rei. Os demais por aí, exceto Pelé, não passam de súditos. Um gênio nordestino, sem igual em nenhum lugar do mundo, com um ecletismo filosófico, que resumo a seguir: (1) Como Cantor, vozeirão chamando a boiada no clássico “Boiadeiro”, com um apelo forte à vida do sertão. Vai boiadeiro que a noite já vem Guarda o teu gado e vai para junto do teu bem (2) Como Sociólogo, retrata sentimentos profundos relacionados à sina do nordestino que tem que deixar sua terra, com perdas, incluindo seu amor, morrendo de saudades, externado na Triste Partida: Eu vendo meu burro Meu jegue e o cavalo Nós vamos a São Paulo Viver ou morrer (3) Como Endocrinologista, expõe a realidade íntima das meninas que começam a sonhar com o amor à medida que suas gônadas entram em atividades: Mandacaru quando fulora na seca É o sinal de que a chuva chega no sertão Toda menina que enjoa da boneca É sinal de que o mor já chegou no coração. (4) Como Ator, declama seu monólogo, Carolina com K, abordando a figura de uma mulher, descrevendo seu charme e beleza, sob um amor intenso e apaixonado. Lá para as tantas, levando-a para as moitas, dá um recado aos estupradores e desrespeitadores das mulheres de hoje, quando diz: Mulher querendo é bom demais! (5) Como Compositor, Asa branca é considerada uma das 3 mais belas canções da MPB , rivalizando com Carinhoso de Pixinguinha e Chão de estrelas, de Sílvio Caldas. Uma melodia tocante e profunda, que representa a esperança de retorno e a saudade da terra e da família: Quando o verde dos teus oios Se espaiar na plantação Eu te asseguro, não chore, não, viu Que eu vortarei, viu, meu coração. (6) Como Instrumentista, tirando acordes belíssimos em sua sanfona, encantando o mundo num dueto com Sivuca, outro gênio dos teclados móveis, ambos forjados no duro chão nordestino. Luiz, tocando marchinhas do São João, provoca um fervor nos corações das pessoas, impulsionando-as ao “mexe-mexe”. (7) Como Professor, que o diga Dominguinhos, expoente máximo da sua aprendizagem. Nunca se negou a transmitir seus conhecimentos e formar sanfoneiros, com humildade e alegria na alma. (8) Como Humano, ia aonde o povo estava, como mais tarde Milton Nascimento alertava. Para que os da roça e pobres pudessem lhe ver cantando, nunca cobrou ingresso em suas aparições. Conseguia um patrocinador e num palanque simples numa praça grande ou num terreno amplo e sem cerca, brincava com os matutos e deixava todo mundo feliz. Ele, mais ainda. (9) Como Benemérito, protegia os seus, os da sua terra, os do seu convívio, com uma simplicidade de dar inveja, Tinha, como ele mesmo cantou, um coração molim: Meu coração é feito de manteig de pudim, molim, molim, molim... (10) Como Inventor do baião, transformou o “São João”, festa que ele se inspirou no roçado pequeno produtor e no sentimento pelos Santos da época – São José, Santo Antônio, São João e São Pedro a maior festa do mundo; mais de 30 dias de arrasta pé: Ai São João, São João do carneirinho Você é tão bonzinho Fale com São José Peça para ele me ajudar Peça para o meu mio dar 20 espigas em cada pé. Então, prezado leitor, sobretudo da faixa jovem, o que dizer mais do Lua, como carinhosamente era chamado pelos íntimos? Um Homem iluminado, orgulho nordestino, patrimônio brasileiro. (18.09.2024)

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