quinta-feira, 25 de abril de 2024

IDOSO, IDADE, CAPACITAÇÃO.



 IDADE SEM CARTEIRA DE IDENTIDADE

 Luiz Ferreira da Silva, 87


 É coisa da nossa sociedade carimbar as pessoas, geralmente botando-as para baixo, por um atributo físico ou pela sua idade. A altura, por exemplo, é um atributo que eleva ou abaixa alguém. Admirados, os chamados “catarinas”, fuzileiro navais nascidos em Santa Catarina, pelo porte de mais de 1,80 m. Na outra ponta, os sacaneados como “baixinhos”, aqueles de menos de 1,60 m, maiormente nordestinos e nortistas. 

Ruy Barbosa que era baixinho, possivelmente revoltado pela alcunha, dizia que o homem se mede do pescoço para cima, externando a sua condição de baiano inteligentíssimo. 

Por outro lado, todo idoso é tido como decrépito, haja vista, por exemplo, as placas que indicam estacionamento privativo, caracterizadas por uma imagem caricata de bengala. 

Feito esse prólogo, chamo ao leitor para reflexionar sobre a questão da idade que, muitas vezes, pode ser um fator depressivo ou de revolta, em razão da má avaliação de instituições sociais, familiares e mais gente por esse mundo de pouco pensar. 

O prezado leitor tem 59 anos e se sente jovial e sem preocupação com a idade. De repente vira a folhinha e cai na faixa dos idosos, 60 anos, instituída pela sociedade, com novas regras. O plano de saúde o define de peso morto, causador de prejuízos, aumentando sua faixa de contribuição ao limite máximo. Isso, além do baque no bolso, pode gerar uma crise de idade, quando. muitos não se atentam para o fato da proximidade da velhice e passam a brigar contra ela, comportando-se como se fossem ainda jovens e refutando a mudança iminente. 

As academias estão cheias deles, na luta exibicionista de músculos rígidos, bem como as chamadas casas de produtos naturais, na procura de “detoxs” e outras misturebas, na ilusão de ludibriar o relógio da vida que continua a girar. O pior de tudo é que pode afetar a mente, desequilibrando corpo-alma, sem saber se alocar, alternando um estado de euforia com sinais depressivos. 

Isso porque esse jovem idoso de 60 alterna se igualar aos de 50, exibindo fortaleza e, em outro momento, amofinar-se à faixa dos de 70. Nenhuma coisa e nem outra. Mas retardar o peso da idade, de modo a atingir as demais faixas com bem-estar e produtivo, procrastinando os anos de vida salutar. 

Por outro lado, há uma ideia muito errada em limitar exageradamente o idoso, sobretudo a partir dos 70, focando na sua carteira de identidade. Como exemplo, a partir daí, a renovação da CNH se reduz a 3 anos. Ora, anos vividos podem não significar decrepitude. Conheço idosos de menos de 75 anos com estado físico-emocional sem condições de dirigir um carro, bem como outros de mais 85 anos sem quaisquer restrições à prática automotiva. 

Esse fato merece certa reflexão. Deve ser muito triste uma pessoa se sentir limitado, seja na dificuldade de se locomover ou se autodeterminar, mesmo tendo uma idade relativamente precoce. É um baque tremendo, assim creio, afetando não só sua qualidade de vida, mas perdendo a razão de viver, só enxergando o seu fim, sem visão futura. 

Diferentemente, um idoso com bem mais idade, que conseguiu chegar a esse patamar sem limitações drásticas, podendo se locomover sem bengala, interpretar textos, discutir as coisas do mundo que busca se antenar cotidianamente, enxerga a vida com pensamentos positivos e não sente a morte chegar, por mais velho que seja. Está sempre cheio de vida. 

Dessa forma, não é correto que se defina a capacitação de um idoso, simplesmente pelos dígitos contidos em sua carteira de identidade, mas pelo seu estado vital. Ele tem que ser o que pode ser e não o que outros acham. Então, meus prezados leitores. 

A partir dos 60, adaptar-se a um novo estilo de vida, com vistas a ultrapassar outros decênios sem os traumas e focando na vida, prolongando o seu tempo de utilidade. Procrastinar, sempre e fazer o relógio da vida continuar com seus ponteiros girando, também sempre. (Maceió, AL, 23/04/202).

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