UM MONUMENTO AOS CORONEIS DO CACAU
Luiz
Ferreira da Silva, 87
luizferreira1937@gmail.com
(Monumental aos Bandeirantes, Ibirapuera/SP-SP.
Em
2022, com meu colega Moreau, lançamos o livro – O Manjar dos deuses é de
dar água na boca (Scortecci Editora/SP), no qual reverenciamos os bravos
pioneiros do cacau que nos deixaram um patrimônio agro eco- socioeconômico sem
precedentes. Desenvolveram uma agricultura sui generis, interagida com a
floresta; criaram uma história além-fronteiras; desenvolveram uma cultura
popular e produziram uma riqueza catalizadora de empregos.
Com
clarividência, pois, soube o primitivo homem do cacau implantar uma lavoura
onde nenhuma outra poderia se estabelecer agronômica, econômica e
ecologicamente, como uma espécie de nicho para esta planta tão dadivosa, numa
região de solos pedregosos, topografia acidentada e “muriçocas” sem respeito.
Pois
bem. Acontece que o lado explorado, sobretudo pelos famosos escritores foi de
serem bárbaros e esbanjadores, desconhecendo o trabalho árduo e destemido em
uma região de mata fechada, sem quaisquer infraestrutura e apoio governamental.
Tinham
que ser machos no sentido da labuta sol a sol e na defesa do seu patrimônio,
ademais da submissão a um código assemelhado ao do Hamurabi: dente por dente e
olho por olho.
Imagine
o leitor o desbravamento de uma natureza bruta na busca da sobrevivência em
ambos os sentidos – física e estipendiária – sob regras e leis dos homens
sentados em seus confortáveis gabinetes! Não se daria a posse destas terras
selvagens e nem o solo produziria uma riqueza que ultrapassou os umbrais da
mata fechada, formando vilas e cidades, enriquecendo uma região.
Começaram
pobres, sem dinheiro e sem instrução, subindo na vida pegando no facão, na
espingarda papo amarelo, alimentando-se de carne seca, farinha e rapadura.
Viviam em casebres, dormindo em redes ou em esteiras de palha, como é contado
por renomados homens das letras.
Temidos
e admirados, eles eram ativos participantes da vida social grapiúna, líderes
legitimados pelo voto, quase sempre conquistado pela força do dinheiro, das
armas e controle das instâncias públicas – a justiça e a polícia.
As
supostas maldades atribuídas aos coronéis, apesar de condenáveis, podem até ser
classificadas de menor grau comparando-as com atos de corrupção praticados
pelos políticos no Brasil, haja vista os danos atuais e às gerações futuras.
E
com toda a desgraceira, foi graças aos coronéis que o cacau se tornou
responsável por 40% da atividade financeira do Estado da Bahia.
No
entanto, é importante que se frise que poderia ser diferente porque o
cacaueiro jamais foi protagonista desta triste ação maléfica do homem. Pelos
seus dotes advindos da natureza, ele apenas foi um fator de cobiça desregrada e
da ganância do ser humano que continua até hoje.
Os
nossos pioneiros não conheceram a vassoura-de-bruxa. Não sei se eles se amofinariam
e tirariam o time do campo, pois sem o respaldo técnico-científico, sempre
enfrentou a “mela” (podridão parda), a chupança (monalonion), os roedores e
tantos outros “sócios” do cacau.
Provavelmente,
conviveriam, em razão de suas roças em solos férteis e de cacaueiros jovens,
com vigor de alta capacidade de recuperação. Ademais, com seu facão afiado e
seu podão areado, não permitiriam um grau de infestação tão elevado, mantendo o
fungo sob vigilância constante (podas fitossanitárias).
Diferente
de 1989, quando a vassoura pegou o cacauicultor de calças curtas: a lavoura
estava quebrada, o produtor descapitalizado, as instituições em declínio e as
roças de cacau envelhecidas.
Agora,
os televisivos acompanham a TV-GLOBO que exibe dramas vividos na região do
cacau, cujo ator principal é Marcos Palmeira, neto do cacauicultor Sinval
Palmeira.
De certa feita, 50 anos atrás, estive em sua
residência que mantinha em Itabuna, já que era Deputado Federal pelo RJ, para
lhe solicitar permissão a um estudo de perfis de solos que iria amostrar em uma
de suas fazendas. A casa estava repleta de netos e, possivelmente, o Marcos
estava presente.
Acredito
que o bom ator tenha chupado muitas bagas de cacau e recebido informações do
avô sobre a epopeia cacaueira.
Se
assim aconteceu, vendo-o interpretar um tal de coronel Inocêncio, imagino o
quanto deve se lembrar do Dr. Sinval e dito para si mesmo – nada tem a ver,
meu avô; ou a Globo é quem sabe das coisas.
Eu
que vivi 30 anos sendo “visgado” pelo cacau fico assistindo de camarote, esperando
que a região análise e se pronuncie, caso se sinta ultrajada.
E,
aproveitando a oportunidade do tema, sugiro aos atuais líderes do cacau - de
Ilhéus, de Itabuna, de Camacã e de Ipiaú -, principais polos cacaueiros, que
pensem num tributo aos pioneiros do cacau, erguendo um monumento, a
exemplo do majestoso Monumento dos Bandeirantes, reverenciado pelo estado de São
Paulo. (Maceió/AL, 12-02-2022).
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