LUIZ FERREIRA DA SILVA
PROJETO BOSQUE DA MATA ATLÂNTICA
CONDOMÍNIO ARQUIPÉLAGO DO SOL
BAHAMA
Barra de São Miguel, 12 de novembro de 2011.
PROJETO BOSQUE DA MATA ATLÂNTICA
Condomínio Arquipélago do Sol/Bahama
Luiz Ferreira da Silva,
74 (2011)
Eng. Agrônomo e
Escritor
NOTA/fevereiro,2024:
Grande parte do projeto foi implantado
no período 2012/2018),
período em que
o autor era condômino do Bahamas.
I. INTRODUÇÃO
O
“Bahama”, uma das 3 unidades do Condomínio Arquipélago do Sol, situado na Barra
de São Miguel, possui sua área drenada pelo rio niquim que o limita por toda
parte leste, distanciado (margem direita) de 15 m em média, formando uma
superfície de aproximadamente 12 mil m2.
Em
grande parte dessa área não mais existem espécies da mata ciliar, com a invasão
de gramíneas, ciperáceas e alguns arbustos introduzidos, a exemplo do sabiá, da
amendoeira da praia e da palheteira.
Urge, pois, a necessidade de se recompor esse espaço com espécies arbóreas, como uma contribuição, mesmo modesta, mas significativa, como o beija-flor da fábula que contribuiu para apagar o incêndio na floresta, à sua maneira e nas forças que dispunha.
II. MATA ATLÂNTICA
Trata-se
de uma vegetação exuberante, com uma diversidade genética ímpar – mais de 300
espécies por hectare. No sudeste da Bahia, o autor identificou 8.128 exemplares
em área equivalente, atestando a riqueza genética do ecossistema.
Por essa sua
exuberância florestal com diversos extratos fisionômicos e biodiversidade, atua
como repositório de matéria orgânica para o solo e como carreadora de
nutrientes das capas inferiores para as superiores, sendo importante na formação
dos solos, através das ações mecânicas e químicas exercidas pelas raízes. Também
desempenha papel fundamental como controladora dos efeitos da erosão.
Esse ecossistema
abrange a floresta perenifólia higrófita (desenvolvida em clima úmido e sobre
solos do terciário/tabuleiro e do cristalino); a floresta perenifólia higrófita
ribeirinha (que ocupa os diques marginais e terraços aluviais dos grandes rios)
e a floresta semi-caducifólia (clima de transição).
Constitui-se de árvores
de grande porte, às vezes com raízes tabulares (Sapopemba), presença de
epífitas (aráceas, bromeliáceas e orquidáceas) e com tonalidade verde-escura de
suas folhas.
Possui como
característica importante, quantitativo elevado de espécies endêmicas e riqueza
em espécies. Estudos desenvolvidos pelo Jardim Botânico de Nova Iorque e a CEPLAC-CEPEC,
BA, atestam que essa floresta apresenta a maior biodiversidade em espécies
arbóreas do planeta.
Dois outros tipos de
vegetação se interagem com a mata atlântica: o complexo da praia e restinga,
constituído de comunidades vegetais herbáceas e arbustivas e a floresta
perenifólia paludosa (mangue), constituída de comunidades heliófilas.
As ações antrópicas e atos irracionais – mau uso do solo, desmatamento criminoso e inadequação de cultivos – destruíram mais de 95% dessa floresta e comunidades afins, havendo a necessidade de recompor as áreas em processo de deterioração solo/vegetação.
III. ESCOLHA DA ÁREA
A
ideia é se recompor a mata ciliar no limite do condomínio, de modo manter o rio
niquim com condições hídricas favoráveis ao seu perfil hidráulico, cumprindo a
sua missão drenante e de manutenção ictiológica.
Pensou-se
um pouco além, escolhendo-se uma área de 700 m2, em uma posição estratégica, na
qual será possível o replantio de outras espécies afins ao ecossistema da mata
atlântica, além da implantação de um bosque com espécies representativas,
objetivo principal do presente projeto.
Agregue-se a isso tudo, a presença majestosa de uma bela árvore, digna representante do ecossistema em foco, passando a ser a PATRONESSE do empreendimento ecológico: uma maçaranduba secular com 3 metros de diâmetro DAP).
IV. OBJETIVOS
1.
Servir de lazer como ponto de adoração à natureza e consequente energização
vegetal, possibilitando descanso, reflexões e leituras;
2.
Implantar espécies de alto valor para o ecossistema da mata atlântica, em
processo de extinção;
3.
Constituir-se num modesto arboreto, fundamental a estudos futuros por
estudantes em Biologia, Agronomia, Engenharia Florestal e Botânica, dentre os
quais:
(a)
Interação solo/vegetação;
(b)
Reciclagem e produção de matéria orgânica;
©
Capacidade de seqüestrar carbono;
(d)
Microorganismos do solo; e
(e)
Fenologia.
4.
Enriquecimento do dossel vegetal atualmente existente no condomínio;
5.
Multiplicação das espécies através das sementes e produção de mudas;
6.
Educação ambiental; e
7. Valorização do próprio Bahama pela condição dessa área florestal implantada, “sui generis” nos condomínios que se tem conhecimento..
V. METODOLOGIA
A área será dividida em três partes, discriminadas a seguir.
1. Sala de visitas, sob a sombra da maçaranduba e de uma mangueira, também majestosa, abrangendo uma área de 200,00 m2. Na entrada, um muro vivo de cruzias e/ou exoras. No interior, uma mesa rústica de granito e bancos do mesmo material. Haverá uma iluminação direcional e condições para acesso à internet.
2.
Área central balizada (4 x 4
metros), comportando 25 covas adredemente preparadas para o plantio das
espécies florestais, constituindo o Bosque da Mata Atlântica propriamente dito.
Dentre as árvores a serem plantadas, um elenco está sendo visualizado, constituído, dentre outras, espécies arbóreas de alto porte: pau-brasil, Joeirana, jatobá, sapucaia, aroeira, ipê roxo, ipê rosa, ipê amarelo, peroba rosa, amora, ingá, mulungu, pau-ferro, brinco de viúva, gabiroba, vinhático, jacarandá, sucupira, jindiba, imbiruçu, oiti, jacarandá.
O plantio será em covas de 30 x 30 x 30cm, em razão de não existir qualquer impedimento físico no solo (sedimentos arenosos de origem fluviomarinho). No entanto, em razão da pobreza química e mineralógica carência de nutrientes, baixa capacidade de troca catiônica e escassa retenção de umidade, proceder-se-á a implantação com a formulação específica:
·
24 kg do solo arenoso (AQM + Aluvião arenoso),
retirados da cova : 60%
·
08 kg de barro vermelho (em torno de 40% de
argila): 20%
·
06 kg de terra preta ou esterco: 15%
·
02 kg de NPK, podendo ser com fertilizantes
individualizados (uréia, cloreto de potássio e superfosfato) ou usada uma
fórmula pronta (10-10-10, por exemplo): 5%.
Essa
mistura (40 kg) será em parte incorporada à cova e, o restante, em um círculo
(D= 50 cm) ao redor da planta. Num primeiro momento vai alimentar as raízes da
planta contidas no saquinho de polietileno, em profundidade e, posteriormente,
o novo sistema radicular distribuído horizontalmente.
3. Àrea lateral, margem do rio, a uns 2 metros em média das árvores plantadas, na qual será feita uma cerca viva, podendo ser de sabiá (sansão do campo), guajiru (espécie já rara do ecossistema das restingas) ou mangue de botão, mais próximo a calha do rio, dependente do grau de salinidade.
VI. COLABORADORES
Todo
o apoio está sendo desprendido pela Direção da APMLS (Associação dos
Proprietários, Moradores do Arquipélago do Sol/Bahama), nas pessoas do Sr
Presidente, Carlos, e Administradores, Denison e Luilson, sem se esquecer do importante
trabalho do pessoal de apoio operacional, os chamados eficientes peões.
Além disso, conta-se com o incentivo e colaboração dos Engenheiros Agrônomos, Drs. Crizanto e Luiz Carlos, proprietários de imóveis no Condomínio, providos de sensibilidade ambiental.
VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com 74 anos (2011), ainda tenho projetos a executar antes de poder dormir, sem os quais a vida não teria sentido. O presente Bosque é um deles com a conotação da eternidade, em razão da condição longeva das espécies selecionadas, que permanecerão vicejando por séculos. Nesse espaço, as árvores serão implantadas no chão e fincadas também na alma e no coração, de modo a que o autor permaneça sempre vivo, independentemente da sua presença física, energizando-se com as emanações dos vegetais, seja em que lugar esteja.
VIII. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CORREA,
F. 1966. A reserva da biosfera da mata atlântica. Caderno n.2. Série Cadernos
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, São Paulo, SP. 27 p.
SILVA,
L.F Da e MENDONÇA, J.R. 2000. Terras avistadas por Cabral (Mata Atlântica): 500
anos de devastação. Universidade Estadual Santa Cruz, Ilhéus, Ba. 43 p.
SILVA,
L. F. Da. Solos Tropicais: aspectos pedológicos, ecológicos e de manejo. Editora
Terras Brasilis, SP. 137 p.
SILVA,
L. F. Da. 1990. Interação solo-vegetação em floresta primária e capoeira do
ecossistema de tabuleiro do sul da Bahia. Agrotrópica,
Itabuna, BA, 2 (2): 96-104.
SILVA,
L.F. Da. 1981. Alterações edáficas em solos de tabuleiro (Haplorthoxs) por
influência do desmatamento, queima e
sistemas de manejo. Revista Theobroma 11(1): 5-19.
SILVA,
L.F. Da. 1988.Alterações edáficas provocadas por essências florestais
implantadas em solos de tabuleiro no sul da Bahia. Revista Theobroma, n.4; v.
18, Ilhéus, BA.
THOMAS,
W. ET AL. 1997. Plant endemism in two forests in
southern Bahia, Brasil. Biodiversity and Conservation 6, 000-000, NY, USA, 12
p.
oOo
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