A REVOLTA DO MAR
Luiz Ferreira da Silva, 85
luizferreira1937@gmail.com
O mar sofre a influência de movimentos eustáticos em
razão da fusão ou acúmulo de gelo, além de forças astrais, ora avançando de um
lado, ora recuando no outro, equilibrando as águas.
Daí as regressões e transgressões marinhas. Isso é
normal. No entanto, o homem pode alterar a linha da costa com construções de
espigões, como o aconteceu em Ilhéus, provocando a invasão das águas na Barra de Itaípe ou
barrar o processo de formação das praias (diques, dunas, terraços), como está
acontecendo na Barra de São Miguel, AL e
tantas outras orlas por este Brasil afora.
Nesta, foram implantadas mansões (Fig.1) no
território praiano, num desafio ao mar, a poucos metros da linha d'água,
impedindo a geogênese marinha, provocando acumulação de areias, inclusive mar
adentro.
Isso porque o mar deixou de alimentar a sua planície
marinha construída anteriormente. Ele bate a cara contra o muro, provocando um
movimento helicoidal cuja energia produzida causa erosão aumentando cada vez
mais a deposição inversa do material, com acúmulo anormal de areias, inclusive
– repito- mar adentro, ao invés de depositar alhures toda esta sedimentação.
Daí área restrita da praia, com espessa camada de
areia fofa e certa inclinação, tornando-a desconfortável ao se caminhar, mesmo
nas baixas marés.
Por enquanto os arrecifes, que não são de alta
resistência, pois são arenitos consolidados, estão segurando a revolta do mar.
Entretanto, a energia de retorno explicitada
anteriormente pode abalar a sua estrutura e, com o tempo, possibilitar o avanço
do mar, botando o homem para correr.
Um outro caso, a praia da Ponta Verde, Maceió/AL. A
ganância imobiliária tomou parte da praia, reduzindo a pista de rolamento com a
edificação de prédios a uma distância mínima do mar.
Essa primeira faixa urbana começaria mais adiante,
na atual segunda quadra. Assim, a planície arenosa seria alargada e o mar
continuaria seu trabalho constante de levar e trazer, de subir e descer, num
processo normal ecológico.
Da mesma forma, ao invés da atual avenida litorânea,
estreita e já com tráfego complicado (Figura 2), seria bem espaçosa, com duas
pistas de cada lado e um canteiro central arborizado com espécies das
restingas. Uma beleza cênica sem igual.
Mais cedo ou mais tarde o mar resgata tudo aquilo
que lhe pertence, não por mandado judicial, mas por decisão da Mãe Natureza.
Esta não perdoa àqueles que infringiram as suas leis (Figura 3).
E o castigo demanda custos. É só o prezado leitor,
em sua caminhada pela bela orla, observar o trabalho da prefeitura de Maceió
para conter a força erosiva no mar, usando imensos blocos de cimento, há meses
e meses numa luta desigual! (Figura 4).
Aproveitando,
vale a pena o alerta. Cuidar da Natureza é servir a Deus, é se garantir
a si mesmo. É uma obrigação da cartilha humana. Desobedecê-la, corre-se o risco
de se pagar caro mais adiante, pois ela não tem complacência. Daí as
catástrofes climáticas, os desbarrancamentos ceifando vítimas, a queda de
árvores nas cidades, os rios secando, as águas contaminadas por mercúrio e por
vinhoto. O solo se degradando e a erosão roubando a sua produtividade. A
floresta perdendo seus componentes e seus parceiros de vida.
No
epicentro da catástrofe, o Homem, chamado de animal racional.
(Fig. 1. Mansão na Barra de São Miguel, invadindo a faixa pertencente ao mar)
(Fig. 2. Avenida Álvaro Otacílio, com pista de rolamento incompatível ao fluxo de veículos, quando deveria ter sua largura duas vezes maior. Fruto da ganância do homem).
(Fig. 3. Avanço do mar em busca do que lhe fora tomado pelo homem).
(Fig. 4. Obra de recuperação da invasão marinha, com elevados custos
para o homem, transgressor das Leis da Natureza).
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Maceió, AL, 03 de fevereiro de 2023.